Melbourne Museum, imperdível! |
Dinos, múmias, fósseis, corpos... De tudo um pouco. |
Eureka Tower, atmosfera meio Jetsons para entrar no clima! |
Do alto, tudo muda de perspectiva... |
Será que a gente consegue ter foco na vida? |
Falta a faísca Matrix, o olhar Eureka pra gente se situar! |
Recentemente, estive em duas das mais conhecidas atrações de Melbourne, o Melbourne Museum e o edifício Eureka Tower. E a partir destes encontros com dois mundos aparentemente desconexos, entrei numa crise existencial. Vou tentar explicar...
O primeiro é um museu imenso, incrível, não de arte em seu conceito mais popular, mas de história. No lugar de esculturas, múmias; animais extintos empalhados; minérios e cristais raros; corpos humanos dissecados; fósseis e esqueletos de dinossauros. Galerias e galerias com mostras interativas; um cinema 3D com filme sobre a formação dos planetas e a vida na Terra; exibições sobre a mente humana, com um acervo de instrumentos e estudos utilizados no passado pela psiquiatria, cabines com a simulação de sonhos, ambientes cheios de ilusões de ótica, que abalam nossas percepções... Também uma floresta de verdade, com espécies vegetais interessantes, e um espaço que tributa sobre as raízes aborígenes do povo australiano, com músicas tribais e artefatos utilizados por eles, recriam uma atmosfera meio “Atlântida” no museu, nos transportando a um tempo que já foi, mas que parece nunca ter sido...
A viagem pelo museu é intensa e deve ser feita com muito tempo. É preciso de no mínimo um dia inteiro entre suas paredes para dar conta de todo seu acervo e dos milhares de anos da evolução das espécies. Até novembro, uma exposição sobre Tutancâmon enriquece mais ainda o museu. Múmias e artefatos egípcios de sua era foram trazidos para o subsolo, atraindo milhares de turistas diariamente para reverenciarem seu legado. O ingresso para o museu é de 8,50 Dólares para adultos e é gratuito para estudantes. Mas para conferir o Faraó, é preciso desembolsar mais 38 doletas.
A segunda atração que visitamos foi o edifício Eureka Tower, o ponto mais alto de Melbourne. A quase 300 metros do solo, alcançável após uma viagem expressa de elevador a 9 m/s, chega-se ao 880andar. O lugar é inteiramente envidraçado, com uma vista 360 graus da cidade. O ideal é chegar perto do final da tarde, para ter a visão do dia e da noite de Melbourne. Num ambiente de penumbra, que nos conduz ma um nível mais baixo de consciência, entre pufes, lunetas e centenas de pessoas deslumbradas, o lugar é uma loucura. Enxergar do alto, no contexto do todo, redescobrir distâncias, redimensionar proximidades, perceber novos caminhos, encontrar novos lugares, tudo é possível quando se está por cima. Saí de lá tonta, confusa, perdida, com a vaga noção de que o mundo não é plano...
Entre uma atração e outra neste final de semana, percebi que somos uma fração mínima num todo que está sempre em construção. E que no meio desta construção interminável, não temos dimensão do nosso tamanho, nem de onde estamos, nem de para onde estamos indo. Na vida nos falta um estado de suspensão 360 graus, o distanciamento de nós mesmos, de nossas histórias, nossos vínculos, de tudo o que fazemos, de tudo o que somos, para enxergar aonde de fato nos encaixamos, se é que nos encaixamos. Precisamos nos despir de nosso egocentrismo, que nos cega de enxergar que o passado é tão ou mais importante que o nosso presente e que o lugar que ocupamos hoje, amanhã será ocupado por outra pessoa; somos elos substituíveis de uma corrente em contínua transformação. Este estado de supremacia absoluta que a visão de cima proporciona deve ser algo que os iluminados conseguem utilizar com sabedoria no dia a dia, ou os muito “terapeutizados”, ou os muito criativos, ou os loucos mesmo.
Essa sensação de ser um rato no labirinto, de viver com a vista única da “tromba do elefante”, acreditando que isso é o elefante, isso me deixou um pouco em parafuso. Entre o Big-Bang e o dia de amanhã, em algum lugar nos situamos, mas nos falta essa faísca Matrix de parar no ar, esse estalo além, esse olhar eureka na vida para percebermos de fato qual é hoje, o nosso lugar.
Espero que a crise passe logo, porque ainda não sei me situar na minha vida, na dos outros, nesse mundo, ou em outro. Mas acho que pouca gente sabe na verdade, ou acha que sabe. Talvez esse seja o sentido da vida, descobrir o nosso lugar; se é que ela tem algum sentido... Enfim, só sei que nunca mais misturo museu com torre, um coquetel forte demais e que pode deixar uma ressaca de surtar!
Um comentário:
Ma, à medida que fui lendo seu post fui te imaginando rodando numa espiral tào vasta como o espaço e tào desprovida de tempo como o infinito, num redemoinho de realismo fantàstico, em dimensòes de profundo encontro do ser com o estar. Suas sensações devem ter tocado o cerne da existência porque você presumiu o eterno em face do efêmero. fiquei com inveja da sua experiência transcedental. Digerir tudo isso vai te dar uma condição muito especial de pessoa maior, com um sentido de parte e de todo, de pertencer e de ser um elo na cadeia da criação. Te invejo. Desfrute dessa experiência o mais que puder, até exaurir sua alma nas tramas de seu cérebro, de seu coração, de seus olhos, de sua saudade e de sua despedida.
Um beijo.
YBM
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