quarta-feira, 7 de setembro de 2011

A volta ao ponto de partida!

Oroboro aborígene, o eterno retorno

Mais um ciclo termina. Mais um se inicia.

Esta é a terceira vez que me despeço em um blog. A primeira, em 25 de março de 2009 e a segunda, em dois de dezembro de 2010; duas ocasiões em que morei na Inglaterra. E hoje, sete de setembro de 2011, eu me despeço pela terceira, mas talvez não pela última, vez.
 
Na primeira semana em que eu e o Mário chegamos à Melbourne, nos hospedamos na homestay de uma brasileira, pegamos entre 10 e 20 graus e dias lindos de sol. Depois de passarmos o outono e o inverno inteiro debaixo de edredon e guarda-chuvas, nesta última semana aqui o clima voltou a ser exatamente igual ao do começo. E na última noite na cidade, eu e o Mário vamos dormir novamente na homestay da brasileira que nos hospedou no início. É a volta ao ponto de partida.


Nesse tempo todo que passamos aqui, pela terceira vez na vida tivemos o privilégio de conhecer pessoas e lugares, nos conhecemos mais e um ao outro também. Revisitamos conceitos, redescobrimos pequenos prazeres, grande prazeres e relembramos pela terceira vez, da falta que nos fazem família, amigos, nossos bichos, nossos temperos, nosso dinheiro. Relembramos também a falta que não fazem algumas pessoas, preocupações e a rotina.
 
Pela terceira vez estamos voltando para casa. A bagagem é maior, a consciência das coisas também. Um lar definitivo não espera por nós mais uma vez, e de novo emprego e carros também não. É a chance de um recomeço, no fim de mais uma jornada.
 

No sábado cedo embarcamos para o Brasil, onde a viagem começou. E chegamos após mais de 20 horas de vôo, na contramão do fuso, à luz do dia, no próprio sábado. Tudo conspira nesse encontro de opostos, para um encontro de iguais. A imagem que fica para mim da estada na Austrália é a de que percorremos um círculo, cumprimos um ciclo, como um oroboro, que simboliza a evolução, a continuidade, o eterno retorno.

Voltaremos para o mesmo lugar, conviveremos com as mesmas pessoas, teremos possivelmente a mesma rotina que tínhamos quando partimos. Mas seremos outros. Nosso retorno encerra nosso terceiro ciclo de peregrinação cigana pelo mundo e inaugura um quarto ciclo, que estou ansiosa para receber, quando pisar no meu velho e bom país, de onde parti há sete meses e para onde pretendo sempre retornar.
Com a certeza de que o mundo dá voltas e que nas suas esquinas elípticas tudo pode acontecer, eu me despeço daqueles que passearam pelo blog. Nos vemos por aí, porque ocasião não há de faltar!

segunda-feira, 5 de setembro de 2011

Fiji, para fechar com chave de ouro!

Existe cenário mais romântico?

Warwick Resort, um paraíso na Terra!

Massagem que transcende o corpo!

Caiaque, para explorar o Pacífico!

Águas mornas e transparentes...

Peixes coloridos, conchas enormes, estrelas azuis, tudo na palma das mãos!

Nas colinas, a vista da onda, que marca o fim da barreira de Corais!

Casamento tradicional!

Praia do hotel e ilha do sea food restaurant, surreal...

Saudação de Fiji!

Nada fere a masculinidades dos guerreiros de Fiji!

Música no restaurante da ilha!

Fiji é mesmo afrodisíaca...

Para encerrar a temporada de quase sete meses na Austrália, eu e o Mário decidimos fazer uma viagem exótica. Foi difícil escolher o destino. Dentre vários lugares, cogitamos Vietnam, Tailândia, Bali, Singapura... Acabamos optando por Fiji. E foi de lá que voltamos ontem.

Ficamos no Warwick, um resort impecável na Costa dos Corais, na ilha de Viti Levu, uma das 330 ilhas que compõe Fiji. A ilha não é a mais paradisíaca de todas, mas por estar circundada por uma gigantesca barreira de corais, possui um dos mares mais transparentes e deslumbrantes que existem, lotado de peixes coloridos, estrelas do mar, conchas enormes e centenas de espécies marinhas. As ilhas menores e mais distantes de Nadi, onde chegam os voos internacionais são em geral também as mais inatingívei$$$ aos reles mortais.

Após passarmos cinco dias de verão, tendo que optar entre andar de caiaque ou pedalinho, fazer snorkel, caminhar pelas praias ou tomar sol, entre assistir shows de danças polinésias ou fazer excursões pelas ilhas ou cachoeiras, e mesmo tendo a difícil tarefa de optar diariamente entre jantar no restaurante italiano, no japonês, no de frutos do mar ou nos buffets temáticos, percebemos que é muito fácil se acostumar ao bem bom. E o efeito colateral disso (além de alguns quilinhos extra...) é ficar muito, mas muito de bem com a vida.


Não é à toa, que Fiji é o destino preferido dos Australianos para se casarem. Os coqueiros, a música, o alto astral do povo, o mar tricolor (azul turquesa no rasinho, verde-água sobre os corais e azul-petróleo além da barreira de corais), os pratos caprichados, a arquitetura, a natureza, tudo conspira a favor do amor... Presenciamos uns seis casamentos no resort; um deles realizado na tradição de Fiji. Foi emocionante. A noiva segue descalça numa canoa pelo mar até chegar à ilha onde o altar é montado. No percurso, um homem com trajes tribais típicos entoa um cântico soprando uma concha gigante. Pode parecer estranho, mas a imagem é de arrepiar.


A aparência dos locais é um capítulo à parte. Os homens são fortes, treinados para as batalhas, dominam armas e o fogo e incorporam a imagem dos heróis. Nem danças cheias de rebolados, as saias que vestem ou as flores que eles usam detrás da orelha ferem sua masculinidade. As mulheres, na maioria gordinhas, lembram musas de Gauguin (mulheres do Tahiti, que ele pintou em sua passagem por lá). Cenários cinematográficos, pratos deliciosos, uma cultura tribal presente, sorrisos e flores por todos os lados. Esse é o retrato de Fiji.


Depois de minha passagem por lá, aconclusão a que cheguei é a de que é uma ilha afrodisíaca. Nenhum lugar pode ser mais azul, mais feliz, mais paradisíaco e apaixonante do que Fiji. Nenhum lugar do mundo deve ter pessoas tão alegres e sorridentes. Bula, ou bom dia, bem-vindo, é a palavra que os fijeans mais dizem aos turistas, sempre com um ar de empolgação máxima, como quem diz “Surpresaaaa!” Mesmo os desconhecidos, nas ruas, nas praias, todos querem fazer amizade. A sensação que se tem é a de que são todos amigos, todos família. Em Fiji, como minha mãe bem previu, a gente se sente em casa.
 

Por isso, para encerrar este post, o penúltimo do blog, colei abaixo o email poético que ela me mandou na véspera da minha viagem. Posso dizer que comprovei tudo o que ela suspeitou a respeito de Fiji, com execeção das vozes. A única voz metafísica que de fato eu escutei foi a da minha consciência, tentando em vão sabotar minha plenitude naquele nirvana azul do Pacífico: “Marina, menos Apple crumble”; Marina, menos Souvenirs”; “Marina, mais protetor”...


Minha filha
"Uma ilha perdida no mapa, muito além de todos os oceanos, lá onde o
dia tromba com a noite e o tempo se mistura, na dança dos meridianos,
nas águas sem fim dos continentes esgarçados, dos povos morenos, de
olhos puxados, lá tão longe de nossas vidas, nossos risos, nossas
lágrimas, lá pode ser que esteja a Terra Prometida, o Paraíso, o
pedaço de céu na Terra que todos almejam encontrar.

Se você souber que
encontrou esse nirvana, essa paz celestial, esse esconderijo do Amor,
então, sinta-se em casa... Olhe muito longamente para o horizonte,
tentando adivinhar o porquê das coisas, e deixe, depois, o coração
falar. Se ele te sussurar “fique!”, então fique. Se ele te soprar “aqui é
a felicidade”, então não saia de lá. Mas se, depois de ver tanta beleza
e de sentir tanta emoção, seu coração for capaz de escutar uma voz que
ainda pede baixinho “volte”, então volte depressa, que, apesar de haver tanto mundo, tanto céu e tanto mar, o seu lugar ainda é junto de mim."